O FIM … OU O PRINCÍPIO …
Fechei um dos olhos … com o outro tentei alinhar a pistola com o alvo de papel que colei numa árvore …
Pressionei o gatilho … um estrondo inundou todo o vale …
Caramba ! Tanto barulho ?!!? Se a arma tinha adaptado um silenciador … … nos filmes quase não se ouviam os disparos silenciados … senti-me enganado …
Vocês se estarão perguntando … porque comprei eu , uma arma … e não uma pistola qualquer … é uma GLOCK G 17 GEN 5 … tranquilos … não a comprei … roubei-a … exactamente como estão a ler …
E, estarão murmurando … este indivíduo está “como um louco” …
Bem … deixemos os pobres loucos em paz … estou louco … sim, sim … já o tenho assumido …
Decidi dar rédas soltas à minha loucura … sei que não durarei muito … mas vou-me soltar …
Dado que o som excedia o que eu esperava … decidi não continuar …
Voltei ao carro --- um BMW Z10 … também roubado, claro está … acelerei …
À saída de CASTELO BRANCO um automóvel estava parado num local a que chamavam … o CHAFARIZ DA GRANJA …
O condutor, com a janela aberta, falava pelo telemóvel …
Paro ao seu lado … em poucos segundos dá-se conta e olha para mim … sorriu-lhe …
--- Bons dias ! --- digo-lhe …
Faz um movimento de cabeça … como que respondendo …
Rapidamente levanto o braço direito … o que tem a arma … disparo …
Tentou, instintivamente, defender-se abrindo a mão …
O projectil trespassou-lhe a palma … entrou-lhe na cabeça, um pouco acima do olho esquerdo …
Meto a primeira e acelero, antes do condutor cair para a frente fazendo soar a buzina …
Que sensação … senti a adrenalina percorrer-me todo o corpo …
Já iam dois disparos … a pistola leva 16 balas no carregador e uma na câmera … tenho para mais 15 … contas fáceis de fazer …
Descendo pela estrada … sem capota … o vento bate-me no rosto … vejo um grupo de casas … conheço o sítio … RIBEIRO DA SETA …
Levanto o pé do acelerador … tudo está tranquilo …
Páro um pouco antes de uma pequena ponte … saio e olho para baixo … vejo um vulto de um homem … rodeado de ovelhas …
Ponho a pistola atrás, entre as calças … aproximo-me …
--- Bons dias !
--- Olá … posso ser-lhe de utilidades ?!
--- Sim ! --- tiro a arma e aponto a um dos animais --- apetece-me matar a uma ovelha …
O homem olhou assustado para a minha mão armada …
--- Calma, senhor !! … são animais … são seres vivos … essa a que o senhor aponta chama-se Esmeralda …
--- Tem nome ?!!? --- sinceramente surpreendeu-me …
--- Todas têm nome … por favor senhor … uma ovelha mata-se para comer … não por prazer …
Olho mais atentamente o animal … se vê que é muito jovem … não terá mais que uns meses …
Sei que não tenho coragem para matar um bichito assim tão terno …
Por isso levanto a arma e, sem apontar sequer, disparo … duas vezes …
Uma das balas deu-lhe no ombro … a segunda no pescoço …
O homem foi projectado para trás … caiu no meio das ovelhas … levou uma das mãos á ferida numa tentativa de evitar a saída do sangue … algo impossível … tinha a veia jugular perfurada … em poucos segundos deixou de respirar …
Não posso evitar um grito de guerra … acaricío com ternura a cabeça do animal a quem à pouco queria disparar … volto ao carro … acelero …
Depois de TABERNA SECA há uma praia fluvial … o meu pai levava-me aí quando eu era pequeno … quero molhar os pés ...não por calor … estamos em novembro … mas para manter a tradição …
Depois da aldeia, a estrada começa a descer pronunciadamente …
Paro antes da grande ponte … saio … respiro fundo … cheira a eucalipto … aproximo-me e olho para baixo … dois homens estão pescando no rio OCREZA … um afluente do rio espanhol TEJO …
Perfeito … conheço uma vereda que me leva a eles … é rápido …
--- Bons dias ! --- cumprimento-os com a mão aberta … eles retribuem o gesto --- como vai a pesca ?!
--- Hoje não está mal … em hora e meia já temos 5 achigans e três barbos …
--- Que bem … --- saco o revólver e disparo na sua direcção … acerto-lhe em pleno peito …
O homem deixou escapar um grito seco e, como nos filmes, caiu de costas, no rio, com os braços abertos …
Uauuu !! Outra descarga de adrenalina …
Procuro o outro homem … mas não está … levanto a cabeça … fugiu … vejo-o a uns 100 metros subindo o monte …
Corro na sua direcção … mas a areia e as pedras tornam-me mais lento …
A uns 30 metros, disparo … mas está muito longe … não acerto … continuo a correr …
Estou cansado … mas há um momento de sorte para mim … o homem tropeça e cai … enquanto volta a levantar-se aproximo-me … disparo de novo … dou-lhe numa perna … um pouco acima do joelho … volta a cair … já não se levanta … grita de dor …
Avanço lentamente para ele … cada vez grita mais … de dor … de pânico …
Peço-lhe que se cale … ainda aumenta mais o volume …
Ponho o cano da pistola na sua testa … exactamente entre os olhos … muito abertos … disparo … silêncio …
A cabeça abre-se-lhe por trás … pedaços de cérebro salpicam-me …
Que estranho … desta vez não senti a energia subir-me pela coluna vertebral … não foi agradável …
Olho para ele … caído … passo-lhe a mão e fecho-lhe os olhos … um pouco de humanidade …
Dou meia volta e volto ao carro …
Antes de chegar ao caminho de subida, olho o corpo do primeiro homem a quem disparei … agora está de boca para baixo com a cara debaixo de água …
Molho os pés, sem tirar os sapatos …
Antes de chegar acima sinto movimento …
Escondo-me entre o mato … tento fazer o ponto da minha situação …
Um carro da polícia está parado ao lado do que eu roubei … há dois homens de uniforme, olhando em todas as direcções … se fixam no rio … dão-se conta do corpo flutuando …
Tenho dúvidas sobre o que fazer … para chegar ao rio têm que passar por mim ,,,
O último disparo mudou algo em mim … de repente … disparar … já não me faz sentir tão … vivo … …
Levanto-me … um dos policias vê-me … empunha a sua arma regulamentar e aponta na minha direcção …
--- Largue a arma … ponha as mãos onde as possa ver … senhor …
Disparo-lhe … ele também dispara …
Sinto o projétil passar muito perto da minha orelha direita … ele permanece de pé … parado … depois cai … primeiro e joelhos … depois para a frente ….
Aproximo-me … coloco o cano da pistola na base da sua cabeça … por detrás … disparo de novo …
Então penso … eram dois … esqueci-me completamente do segundo polícia …
Olho os carros … ele estava mesmo à minha frente … máximo quatro metros …
Levanto a arma … oiço três disparos … nenhum meu …
Sinto uma pressão no peito … passo a mão e vejo-a cheia de sangue …
Olho para baixo … tenho dois impactos na zona do coração e um no baixo ventre …
Reconheço a gravidade … qualquer deles assina o meu final …
Olho para o segundo agente … continua a apontar-me a sua arma … mas também ele sabe que não necessita voltar a disparar …
Tento sentar-me … mas caio lateralmente …
A cara do homem revela raiva … ódio …
Finalmente se acaba tudo … a cor do uniforme começa a desaparecer … agora, tudo à minha volta é a preto e branco …
É o fim … ou … o princípio ?!!?
FIM