miércoles, 26 de julio de 2023

OA MONSTROS EXISTEM - 76 - jorge peres

 


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                                OS MONSTROS EXISTEM



    Deitado tranquilamente na sua cama redonda, Julio dormia .

    Pela janela, a luz de uma lua quase cheia, invadia o quarto .

    Só se ouvia a sua respiração … profunda … pausada …

    A noite avançava, mas … alguma coisa estava para acontecer …

    Um ruido repentino soou como um trovão naquele silencio …

    A respiração de Julio deixou de se ouvir … o seu sono passou, rapidamente, de profundo a leve …

    Outro som inesperado … Julio despertou completamente …

    Sentou-se na cama, olhando à sua volta e procurando o motivo do ruido …

    Tentou acender o candeeiro da mesinha de cabeceira .. mas não funcionava …

    Nessa mesma mesa, o relógio marcava 03.33h …

    Que estranho … o relogio tambem era elétrico … e funcionava … e o candeeiro não ?! … bem … poderia ser a lâmpada …

    Reparou a curiodidade da hora … 03.33 h … a hora dos fantasmas … ou ao menos … assim diziam alguns …

    De novo se repetiu o som … parecía de alguem … já com alguma idade … com problemas para respirar … mas … naquele quarto só estava ele … … ou não ?!!

    Olhou atentamente … um dos cantos, perto da janela … alí havía algo … como que uma sombra …

--- Quem está aí ?!!?

--- Eu … --- voz nasal … profunda … inquietante …

--- E tu, quem és ?!!?

--- Tu sabes quem sou …

--- Não gosto destas brincadeiras !!

--- Brincadeiras ?!? Parece-te que somos uma brincadeira ?!?

--- Quantos sois ?!!?

--- Muitos … e todos estamos aquí por ti …

--- E que querem de mim ?!!?

--- Queremos-te a ti …

    Das outras duas esquinas do quarto mexeram-se outras duas sombras … eram grandes …

    Agora … os três … em formação de tridente … avançavam na sua direcção …

     O medo de Julio aumentava cada vez mais …

    Tentou avaliar a situação … eram três … não podiam cubrir os 360º à sua volta …

    Olhou para a porta do quarto … conseguiria chegar até ela ?!

    Entre a ideia e a execução foi tudo coisa de quatro segundos …

    Saltou da cama, abriu a porta e saiu correndo …

    A meio do corredor olhou para trás … vinham os monstros … avançavam sem tocar o chão … eram rapidos …

    Ao final estava a porta de saída ...

    ulio corria sem sapatos … mas era a sua única opção …

    Saiu e, rapidamente, fechou a porta … não havia ninguem …

    Chamou o elevador … mas estava longe … era o décimo terceiro andar … demoraria a chegar …

    Tentou acencer a luz … mas tambem não funcionava …

    Apurando os olhos … algo subia as escadas … algo silencioso … una anaconda … enorme … atrás dela … outra … e outra mais …

    Um click sonoro avisou-o de que chegara o elevador …

    Abriu-se a porta … trazia duas pessoas … estavam de costas …

    Pelo espelho viu-lhes a cara … disforme … horrivel …

    Zombies ?!!? … Mas … que o que se estava a passar ?!!? …

    Instintivamente fechou a porta e correu na direcção da única saida livre … as escadas ascendentes …

    Subiu, de dois em dois, os degraus … sabia que no alto estava o enorme terraço que abrangia toda a largura da torre … esperava que a porta, como de costume, só estivesse encostada … pelo menos um pouco de sorte … por favor …

    A porta estava aberta … saiu e fechou-a atrás de si …

    Aí não havia sinais de monstros … havía um sol claro … quente …

    Sol ?!!? … mas se eram pouco mais das tres da manhã …

--- Que pensavas ?!! Que te livrarias de nós ?!! Viemos por ti !!!

    De onde vinha aquela voz ?!!?

    Olhou para o céu … uma enorme ave de rapina descía veloz na sua direcção … podia distinguir as afiadas garras e o bico curvo do abutre …

    Ao mesmo tempo ouviram-se fortes pancadas na porta de ferro …

    Julio estava já muito perto do seu limite …

    Com um enorme estrondo a porta cedeu …

    Por aí sairam os tres monstros do quarto … os dois zombies do elevador … as tres serpentes das escadas … e, mesmo por cima … o abutre com outros dois …

    Julio continuou a recuar … pouco a pouco …

    Eles avançavam … sem pressa … em semicirculo ---

    Agora, detrás, só tinha o pequeno muro limitrofe … subiu …

    Olhou para baixo … 15 andares … dava vertigens … mas eles continuavam a sua aproximação …

--- Querem matar-me ?!!?

--- Nãoooo ! Tu mesmo de encarregarás disso !! ah ! Ah ! Ah ! Ah !

    Julio compreendeu … eram os seus últimos momentos … ali se acabaria tudo … já não havia mais saidas …

    Voltou as costas aos monstros … preparou-se … tinha que saltar ?!!? Pois saltaría …

---Nãããoooo !!! Julio ! Não o faças !!!

    A voz já o apanhou quase em desiquilibreo …

--- Espera, Julio !!! Por favor !!! …

    Um mulher corria para ele …

    Apanhou-o por um braço … no ultimo momento … cairam no chão do terraço … abraçados …

    De repente … desapareceram os monstros … e … voltou a ser de noite …

--- Mamã !!! …

--- Julio … meu filho … --- a cara da mulher estava banhada em lagrimas --- que estavas a fazer ?!! Meu pequeno … …

--- Eram os monstros, mamã … queriam obrigar-me a saltar …

    A mãe soluçava de pranto enquanto continuava a abraça-lo … --- tanto te pedi que o deixasses …

--- Perdoa-me, mamã … não consegui evita-lo … --- juntou-se a ela no choro …

    Do bolso das calças do pijama caiu uma pequena cápsula … naquela quase escuridão a mulher não pôde ler o que tinha escrito, em letras quase microscópicas … mas ela já sabia, perfeitamente, o que estava escrito … tinha-lhe já encontrado dezenas iguais … dietilamida de ácido lisérgico …

--- Deveria sabê-lo, mamã … eram só alucinações …

    A mãe apertou a cápsula vazía na mão … com raiva …

--- Não, filho … tens que acreditar … os monstros existem !!



                                        fim (quase)



    Devo confessar que sou completamente abstémio … ou seja … que não bebo, nem nunca bebi, nada de alcool ou gaseificado … tambem abandonei o tabaco, definitivamente, em 2008 …

    Aqui, em Espanha, as pessoas olham-me com ar de surpresa quando lhes digo que nunca na minha vida fumei um “porro” … “charro” como se diz em Portugal … mas a verdade é que nunca senti essa necessidade …

    Como músico, que tambem fui e sou, sempre vivi ambientes em que fui testemunha de companheiros que se “agarravam” a substâncias psicotrópicas, em maior ou menor escala …

    Dietilamida de ácido Lisérgico é o temo técnico de LSD.

    Este relato é uma homenagem a alguns desses companheiros com quem convivi … que tentei ajudar … e fui testemunha de como dois deles acabaram … escapando-se por entre os meus dedos … como areia de praia … Carlos … Dino … onde quer que estejam … este relato é para vocês …


                                        fim (agora sim)


. correctora - MARIA JOÃO PERES

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. esta historia está publicada no livro SOMBRAS DIFUSAS II





O FIM ... OU ... O PRINCÍPIO ?! - jorge peres - 81

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