COEXISTENCIA PACÍFICA
Vou-vos
apresentar uma personagem diferente … FERBY EMANUELLE … um nome
muito adecuado au seu perfil … sério … olhar profundo …
silêncioso … respeituoso … quase aristocrático … ou deveria
dizer … aristogático … ?!!?
Ferby
era um gato de quatro anos … quase 7 quilos de peso … e um pelo
lustroso … brilhante …
Tinham-no
resgatado de uma morte certa … vivia naquela casa desde entäo …
Ferby
era, em si mesmo, diferente, e tinha uma característica especial que
o destinguia da maior parte dos outros gatos … compreendia
integralmente a linguagem dos humanos …
Näo
era só a capacidade de “ler” a adrenalina e os estados de
espírito … ele entendia o português …
Isso
trazia-lhe vantagens e desvantagens … por um lado sempre sabia
exactamente o que passava à sua volta … por outro lado … estava
mal visto no “reino” dos outros gatos …
Mas
naquela casa ele era o único animal … todo o espaço era seu …
Ao
menos de momento … porque na semana passada ouvira como Mara, a sua
dona, pedia a Andrés, o seu marido … um cão!
A
ideia não lhe fez muita graça …
Um
cão ?!!? Que estava passando ?!!? Ele já não era companhia
suficiente ?!!?
Ainda
se fosse outro gato !!! … estava seguro de controlar a situação …
mas ,,, um cão ?!!? E … que tipo de cão ?!?
A
reacção do Andrés foi dizer-lhe que não seria boa ideia … de
que um cão significava novas responsabilidades e rotinas … mas …
Ferby era um gato … um gato esperto … os indíces de adrebalina
do marido da sua dona não diziam exactamente o mesmo que as suas
palavras ,,, ele sabía que seria tão só, uma questão de tempo …
Efectivamente
assim foi …
Aquela
mesma tarde observou como Andrés entrava em casa, transportando uma
caixa … com muito cuidado …
Em
questão de segundos chegou-lhe o cheiro …
---
Querida !…! Já estou em casa … tenho algo para ti …
Mara
chegou a correr da cozinha …
---
O que se passa ?!!
O
marido apontou-lhe a caixa …
---
É para ti !
---
É para mim ?!!? O que é ?!!?
Ao
abrir caixa os olhos dela derreteram-se de ternura …
---
Oh!! Andrés !! … que bonito … és um querido … …
---
Já podes começar a pensar que nome lhe vais pôr …
---
Já tenho um … NEO … vamos a chamar-lhe NEO …
Neo
?!!? Que raio de nome era esse ?!!?
Agora,
olhando-o fora da caixa … via-o muito pequeño … muito débil …
Certamente
não lhe iria fazer concorrência … em todo o caso … estaría
alerta …
As
coisas começaram a mudar naquela casa depois daquela tarde …
Neo
não era agora o centro das atenções …
Levavam-no
à rua … duas vezes ao dia … tinha que dividir espaço com ele à
hora da comida … com um cão minúsculo … súper desastroso … e
ainda por cima a comida dele era muito boa … quase melhor do que a
sua …
À
hora da “sesta”, quando Ferby se preparava para ocupar o seu
lugar no sofá … já estava ocupada … por Neo … claro !!!
Mas,
a gota de água que lhe fez vazar o recipiente da sua paciência foi
quando chegou a hora dos seus donos irem dormir …
Ferby
tinha o seu “lugar cativo” aos pés da sua dona …
Desde
há quatro anos que ele disfrutava de essas horas nocturnas de
tranquilidade …
O
problema é que começaram por deixá-lo fora do quarto … e isso
deixou-o intrigado …
Aproveitando
um momento de distração entrou …
O
que viu tirou-lhe o ronronear …
Neo
dormia placidamente no seu lugar … Isso requeria acçöes rotundas
… rápidas … imediatas …
Iria
complicar-lhe a vida …
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O
dia começou aparentemente tranquilo.
Andrés
saira cedo … como todos os dias …
Mara
estava a tomar o pequeno almoço …
Ferby
disfarçava que dormia … mas näo … estava alerta …
Cumpriam-se
8 dias desde que Neo entrara naquela casa …
Oito
dias complicados … ao menos para o cäo …
Logo
no primeiro dia, Ferby, esperou que os seus donos acabassem de jantar
…
Quando
ja quase tinham recolhido a mesa, Ferby espetou as unhas na toalha …
Puxou
… ao mesmo tempo chamou a atençäo de Neo …
O
cäo chegou no momento exacto em que toda a toalha e um copo de agua,
que ainda estava na mesa, lhe caía em cima …
Mara
chegou alertada pelo som do copo partindo-se no chäo …
---
Neo !!! Que fizeste ?!!?
O
pobre do Neo olhava para ele com um ar desconcertado enquanto à
distância, Ferby exibia o sorriso de um gato misterioso …
Tinha
começado a guerra … Ferb – 1 … Neo – 0 …
Dois
dias depois, Mara estava a fazer um bolo …
Aproveitando
o momento em que a sua dona foi à sala buscar o telemóvel, Ferby
atacou …
---
Olha !!! Oh amostra de cäo … !!! Eu sou mais rápido do que tu …
Neo,
de imediato, aceitou o desafio e começou a persegui-lo …
Ferby
saltou para a mesa da cozinha … Neo imitou-o …
Ferby
parou repentinamente … habilidade de felino …
Neo
… näo conseguiu travar a tempo …
Enquanto
deslizava pela mesa chocou com o pacote da farinha … acabou caindo
ao chäo … todo branco deixando pegadas inequivocas por toda a
cozinha …
Ferby
voltou ao seu recanto e esperou …
---
Neooooo !! --- a sua dona já se tinha dado conta … outro ponto
mais para ele …
Nos
dias seguintes sempre foi passando algo …
Astutamente,
Ferby conseguia sempre que os seus donos culpassem o recém chegado …
Quase
sentia pena … pobre Neo …
Mas
näo iria parar … necessitava recuperar o seu espaço … e a
atençäo de Mara e Andrés …
A
noite anterior ouvira uma conversa entre eles … estavam a chegar à
conclusäo de que o cäo era demasiado desastrado … chegaram a
falar em devolvê-lo …
Para
Ferby era a vitoria total …
Faltava
o toque final … e o negro gato sabia bem o que queria fazer …
A
janela da cozinha estava sempre aberta …
Desde
aí, Ferby passou ao jardim que se encontrava na parte de trás da
casa …
Ao
fundo havia uma pequena barraca de madeira … uma pequena
arrecadaçäo … cheia de coisas interesantes … de certeza que
enontraria algo com que culpar a Neo …
A
porta sempre estava encostada pelo que näo foi difícil entrar …
já o tinha feito muitas outras vezes …
Dentro
havia uma velha estante de metal, com sacos e volumes …
Bem
no cimo estava, precisamente uma caixa grande …
Tinha
a certeza que näo estava aí na sua ultima visita …
De
um salto subiu e colocou-se ao lado da caixa …
Com
a pata tentou abrir a tampa … tinha que saber o que estava lá
dentro …
Parecia
pesada … faria um pouco mais de pressäo …
Entäo
teve uma sensaçäo desagradavel … estranhamente desiquilibrante …
a estante começou a inclinar-se … mais … mais …
Ferby
consegiu saltar no mesmo momento em que caia por completo espalhando
tudo pelo chäo de terra …
Ouvia
sons esquisitos … começou a notar cheiro de fumo … tentou a sair
… mas a porta estava bloqueada …
Olhou
para cima e avaliou a situaçäo …
Ao
cair a estante partiu uma lâmpada que estava pendurada do tecto …
dos filamentos expostos saíam faíscas que estavam a criar pequenas
chamas num velho colchäo de espuma que estava contra a parede …
Conclusäo
… estava preso num espaço com pouco mais de um metro quadrado sem
janelas … com um princípio de incêndio que cada vez aumentava
mais e com todo o espaço a encher-se de fumo … a sua situaçäo
era crítica …
O
instinto de sobrevivência levava Ferby manter-se junto ao chäo …
Miou
o mais forte que pôde … mas, com a porta fechada, ninguém o iria
ouvir … terminaria assim os seus dias ?!!!!? … ingloriamente ?!!?
Ouvia-se
já o crepitar das chamas … cada vez mais fortes … iam comsumindo
todo o colchäo … rapidamente iria consumir as paredes de madeira
da barraca …
---
Ferby !!
Alguém
o chamava … quem seria ? Näo reconhecia a voz …
---
Ferby !! Estás aí dentro ?!
---
Sim !… Quem és ?
---
Sou Neo …
Olha
! O pequeno tambem fala …
---
Neo … chama a Mara …
---
Ela já sabe do fogo … o que näo sabe é que tu estás aí … !
O
fumo começava a atacar a garganta de Ferby … já tinha dificuldade
em pensar …
---
Vou-te tirar daí …
Ele
ouviu … mas näo acreditou … como iria aquele cäo … pequeno …
azarento … poder ajudá-lo ?!?
Um
som compassado chegou até ele … näo conseguia identificar a
proveniência … parecia vir de uma das paredes laterais …
Fosse
o que fosse … já era tarde ...
O som manteve-se durante alguns minutos …
Ferby
já quase não se aguentava nas quatro patas … cada vez havia menos
oxigénio … deitou-se na terra e fechou os olhos … assim acabaria
tudo …
---
Ferby … vem !!!
Olhou
sobressaltado …
Neo
tinha escavado um buraco no chão, desde o outro lado … agora havia
uma pequena abertura por onde, com um pouco de esforço, Ferby podia
sair …
O
primeiro que viu, quando chegou fora foi Mara … chegava com uma
mangueira …
---
Vem ! Ferby ! Vais-te molhar …
Correu
o que pôde … só parou no seu tapete, na sala … agora estava
seguro … já podia respirar …
Deitou-se
com um só movimento, enquanto Neo se aproximava lentamente …
---
Estás bem ?!
---
Sim, Neo … muito melhor … obrigado …
---
De nada … descansa …
---
Neo !
---
Sim ?!
---
Podes deitar-te aqui … se queres … há espaço para os dois …
--- chegou-se um pouco para trás .
Neo
aceitou o convite.
Mara
apagou o pequeno incêndio em poucos minutos … era consciênte que
os dois animais não se davam bem … aquela foi, possivelmente,
outra invenção de Ferby para culpar o pobre Neo …
Já
eram demasiadas coisas … teriam que prescindir de um deles … e a
ter que tomar essa decisão … teriam que entregar o cão … era o
recém chegado …
Começou
a fazer a chamada pelo telemóvel … tinha que contar ao seu marido
… tinha que informá-lo …
Mas
o que viu, quando chegou à sala fê-la interromper a acção …
No
cantinho dos animais, Ferby e Neo dormiam … abraçados … um
quadro de uma ternura difícil de traduzir em palavras …
Em
vez de escrever tirou uma fotografia e mandou-a a Andrés …
Afinal
… talvez não fosse necessário devolver Neo …
Talvez
pudessem viver todos numa … coexistência pacífica …
fim
correctora – MARIA JOÃO PERES
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